Até à pouco tempo viviam-se tempos de optimismo e euforia em redor da equipa de futebol que se ia formando no Sporting Clube de Portugal. Após uma péssima época a nível desportivo e umas atribuladas eleições presidenciais, os aficionados leoninos compreenderam que era preciso juntar as tropas e só desta forma, apoiando toda a estrutura do clube, é que seria possível enfrentar Porto e Benfica.
Criou-se então uma onda de apoio à nova direcção liderada por Godinho Lopes e também ao novo Departamento de Futebol. Inicialmente os sinais foram bons, Domingos era acarinhado, as contratações aprovadas pela maioria e as primeiras vitórias na pré época deixavam água na boca dos adeptos.
Porém tudo começou a mudar no dia 30 de Julho, no dia em que Alvalade recebeu o jogo de apresentação com o Valência. O estádio encheu, as expectativas eram enormes mas no primeiro teste frente aos adeptos a equipa falhou. A derrota foi clara (0-3) e desde aí a equipa nunca mais recuperou a confiança.
Seguiu-se uma má prestação no Troféu Ramón Carranza e antes do inicio do campeonato o clima já era de desconfiança.
A politica de contratações era posta em causa e os mal-amados como Polga, Yannick, Evaldo e Postiga voltavam a ser criticados.
Volvido que está agora quase um mês de competição, ou seja, três jornadas da Liga e uma pré eliminatória da Liga Europa, a crise está instalada.
O Sporting ainda não venceu no campeonato e o apuramento para a Liga Europa frente a uma modesta equipa dinamarquesa foi sofrível.
Os adeptos sportinguistas têm toda a razão para estar insatisfeitos mas a meu ver estão a centrar-se na pior das razões para este mau arranque, as arbitragens.
É justo esclarecer que na primeira jornada existem razões de queixa mas nas duas últimas nem por isso. Em Aveiro o jogo dirigido por um árbitro de escalões inferiores não teve nenhum caso e na derrota com o Marítimo os erros da equipa foram por demais evidentes e por isso é despropositado submeter as culpas do desaire para a má actuação de Pedro Proença e seus auxiliares.
Numa partida em que o Sporting por sinal também foi beneficiado, concretamente no segundo golo, tento que precede de uma falta inexistente.
De seguida proponho traçar seis factores que poderão ajudar a explicar esta crise leonina.
Trata-se de uma mera visão de um adepto de futebol e por isso vale o que vale.
Os seis factores são:
1- Dupla de centrais
Era consensual que o Sporting tinha um problema quanto à dupla de defesas centrais e em resposta a esse problema chegaram Rodriguez e Onyewu. Duas boas apostas mas que entraram com o pé esquerdo em Alvalade.
O peruano é titular em circunstancias normais, apenas os problemas físicos lhe retiraram esse estatuto neste inicio e o norte americano parece com dificuldades em convencer Domingos Paciência. Com a lesão de Rodriguez ficou mais uma vez notório as debilidades que aprensenta a dupla Polga/Carriço.
Acredito que a melhor dupla será mesmo Rodriguez e Onyewu, compreendo que o ex-jogador do Twente ainda não esteja adaptado mas será necessário dar-lhe minutos para resolver essa questão.
Além disso existe um défice no jogo aéreo desde da saída de Tonel e o gigante Oguchi Onyewu será a solução obvia para colmatar esse problema, um problema não só de altura mas também de agressividade na disputa de bolas por alto. A derrota com o Maritimo deveu-se muito a este aspecto.
2- Ausência de um avançado goleador
Os adeptos assistiram à saída de Liedson em lágrimas e esse gesto é agora ainda mais compreensível. Ter à disposição avançados que produzem 5 a 10 golos por época não é suficiente para um clube com os objectivos do Sporting
Os pontas de lança contratados esta época foram Bojinov, Wolfswinkel e Rubio mas estes jogadores são uma incógnita.
O búlgaro tem sido fustigado por lesões nas últimas épocas, o jovem holandês chega com um bom rácio de golos mas é importante sublinhar que provém de um clube médio da liga holandesa e o chileno é um jogador ainda por lapidar mas que a meu ver merece mais oportunidades.
Domingos tem optado pela prata da casa (Postiga) e a seca perdura. Fez sobretudo confusão não apostar mais na dupla Postiga e Wolfswinkel,
solução que resultou durante a pré época e que em Aveiro criou perigo efectivo.
Aqui está uma das grandes razões para o insucesso sportinguista, a dependência por Liedson era um problemas mas agora existe um ainda maior.
A solução contudo poderia residir em outro jogador do plantel. Os golos não são de inteira responsabilidade dos pontas de lança contudo olhando atentamente para o plantel leonino não vislumbro qualquer elemento nos outros sectores com especial apetência para o golo.
Acrescente-se por fim a venda de Postiga e o futuro apresenta-se ainda mais negro.
3- Meio campo e construção de jogo (Play-maker)
Não gostaria de voltar a mencionar jogadores do passado do clube mas inevitavelmente terei de falar em Moutinho neste capitulo. Na época passada era confrangedor ver o meio campo do Sporting, não existia quem definisse os ritmos de jogo e tudo saía de improviso e geralmente mal.
Moutinho tinha e tem essa capacidade de definir o ritmo e desde da sua saída que ninguém se implementou no seu lugar.
Este ano chegaram Schaars e Rinaudo, recuperou-se Izmailov e mais recentemente também chegou o brasileiro Elias.
Existe potencial para constituir um bom meio campo mas para tal é primordial definir quem organiza , onde organiza e como organiza.
Schaars tem essa capacidade numa primeira fase e Izmailov e Matias também o têm numa zona mais adiantada. A meu ver é a Izmailov e Matias que devem ser atribuídas essas responsabilidades.
Matias esta época tem de se constituir como uma opção mais fiável e que assuma maior protagonismo na manobra atacante da equipa, senão o for arrisco que passará muito tempo no banco.
Quanto a Izmailov tem sido o melhor do Sporting e deverá ser considerado neste momento como uma unidade nuclear da equipa.
Com a chegada de Elias, Domingos aumenta as suas opções mas é fundamental definir quanto antes como será organizado o jogo atacante da equipa. Até ao momento a equipa não tem construído de forma clara e não se acredite que os constantes raides de Capel resolvem o problema.
Nota também para a saída de Jaime Valdés. Um dos melhores no ano transacto e que na minha perspectiva devia ter permanecido.
4- Estado emocional de Domingos
Outro factor que me chamou a tenção foi o ar apreensivo e nervoso com que o treinador do Sporting se apresentou durante os jogos. Este sentimento de intranquilidade que Domingos transmite certamente não ajuda os jogadores. Sabe-se a pressão a que este está sujeito mas o treinador deve acima de tudo proteger a sua equipa e serená-la nos momentos mais complicados.
Por outro lado acho injusto alguns julgamentos que fizeram ao trabalho de Domingos . A construção de uma equipa exige tempo e Domingos ainda não dispôs dele.
5- Modelo de jogo pouco definido
Mais importante que o sistema em que a equipa actua , é o modelo de jogo que a equipa apresenta, ou seja os princípios de jogo pelo qual a equipa se rege. Vendo o Porto e o Benfica a jogar é fácil desmitificar quais os seus princípios mas vendo o Sporting nem por isso. Paulo Sérgio não o conseguiu e até agora Domingos também não.
Porém esta situação entende-se, Domingos ainda não teve o tempo necessário e a chegada de jogadores a conta gotas também não ajuda. Este será provavelmente o seu principal desafio.
O modelo de jogo que Domingos implementou no Braga não resultará em Alvalade, o Braga era uma equipa sobretudo reactiva e na maioria dos jogos o Sporting terá que comandar as operações. Será importante que se consiga o mais depressa possível e neste processo os adeptos têm um papel importante, com isto refiro-me a valores como a condescendência e a paciência.
6- Ausência de um jogador com capacidade de liderança
O último prende-se com o facto de não existir um jogador que se sobressaia como líder dentro das quatro linhas.
A tal voz de comando, a prolongação do treinador em campo e a presença desse tipo de jogador também é importante quando os resultados não aparecem. O mais próximo desse perfil de líder seria Polga, e acredito mesmo que possa ter esse papel mas mais dentro do balneário que dentro do próprio campo.
Volto a realçar que esta posição de treinador de bancada é bastante confortável e é preciso ressalvar que nem tudo é tão simples como à primeira vista parece.
No entanto olhando externamente, não faz qualquer sentido vender dois jogadores no último dia proposto para transferências , jogadores que até aqui eram titulares.
Será por tanto possível que até ao dia 30 de Agosto Yannick e Postiga fossem peças fundamentais do puzzle e que no dia a seguir já fossem perfeitamente descartáveis.. Será isto coerente? Será isto sensato?
Tudo aponta que não e nesse sentido deduzo que o planeamento desta época foi mal realizado.
Na perspectiva dos adeptos num dia Domingos é o homem certo para o cargo, no outro dia já não o é. Na perspectiva do departamento de futebol num dia Postiga e Yannick são titulares, no outro dia já são cartas fora do baralho.
Analisando de forma fria a atitude dos seus funcionários e adeptos é caso para dizer que estamos perante um leão bipolar.
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